depois é sempre muito tarde é o título de um romance que talvez publique algum dia. é também o título de um poema (2018). O NEON FOI CRIADO COMO PARTE DA PESQUISA QUE REALIZEI PARA O DOUTORADO.
ENTRE MAIO DE 2020 E ALGUM MÊS DE 2022, EM MEIO À PANDEMIA, O LETREIRO ACENDEU ALGUMAS VEZES NUMA JANELA DA ALAMEDA SANTOS, EM SÃO PAULO.
A gente perdia as horas
pensando no mundo que seria
se a maçã fosse cor
de uva
e o sapato, de algodão
Chegamos a ter certeza
a gente alcançaria o céu
algum dia
e visitaríamos o fim do mar
sem precisar viajar
O jogo de tabuleiro
ganharia sensualidade
Jogando online
estaríamos mais à vontade
para gozar em paz
E planejamos experimentar
o Bonzo que o Trica comia
E a poesia
antiqualquer coisa
abriria nosso caminho
para uma hipersensibilidade
dos extraordinários
Não mataríamos ninguém
viveríamos da vida
sanguessugas
picada de saúva
sorvendo a beleza
que é poder sentir
a dor, que seja
Celebraríamos picnics
surpresa
no maior parque da cidade
em horário proibido
um bote inflado
Terminando sujos e molhados
se a amizade vale a pena
Não trocaríamos a coisa
pela palavra
Não abandonaríamos o lugar
o cheiro, o calor, a luz ardendo os olhos
pela condenação
de querer inventar
quando já não aconteceria
Tudo obedecendo
a um tempo mágico, interminável
Indefeso diante
da teimosia
de ser sempre
e que acaba
Então
na volta da lanchonete barata
suficientemente perto de casa
olhando
míopes
no outro lado da calçada
suporíamos
o outro
do algodão
do mar
da ração
do tabuleiro
da zona
da poesia
e da dor e da condenação
de narrar a vida longe das coisas vivas
Apagado por um presente
tarde demais
pra ser
o que
o futuro do passado
seria
um dia