nosotros
coletânea de CONTOS - vários autores - EDITORA OITO E MEIO (2017)
Nosotros – Uma antologia de e para a América Latina
Por Lucia Bettencourt
Quantas vezes lamentamos que o Brasil, apesar de sua localização geográfica, pareça estar à deriva, alheio aos países que o rodeiam? Essa impressão deve-se ao fato de que somos o único país latino-americano que tem o português como língua nacional. Algumas circunstâncias políticas, alguns líderes governamentais com discurso nacionalista, a cicatriz e a mágoa da Guerra do Paraguai esconderam o fato de que o que nos une é muito mais poderoso do que nossas diferenças. Estamos unidos porque estivemos, durante séculos, sob o domínio férreo de duas potências europeias que rapidamente se tornaram decadentes.
Portugal e Espanha logo perceberam que necessitavam das colônias americanas para permanecerem com alguma relevância política na Europa. As estratégias adotadas pelos dois países com relação a seus domínios americanos foram diferentes. No turbulento século XIX, Portugal, mais pragmático, manobrou politicamente para manter-se influente em seus domínios, transformando o Brasil, de colônia em império com algumas viagens e declarações oportunas. Já os espanhóis, por sua reação mais próxima ao orgulho monárquico, foi perdendo territórios com lutas de independência surgidas por toda a região. Assim sendo, nossos vizinhos chegaram antes de nós à república, embora divididos em muitos países.
Hoje em dia, são 20 os países que formam a América Latina e, aqui nesta antologia, todos aparecem vistos através dos olhos de autores brasileiros, de diferentes estilos e origens. Creio que uma bela imagem para identificar a homogeneidade na diferença seja o quadro citado por Igor Dias em sua história localizada em Cuba. O quadro “Mundo soñado” retrata um mapa mundi feito com centenas de imagens de Cuba que, agrupadas, tomam a forma de todos os países do mundo. Aqui neste livro reconhecemos a América Latina em todas as histórias contadas, como se cada país fosse formado por um mosaico de pequenos desenhos da América Latina, sempre a mesma, sempre distinta.
Lucia Bettencourt