Levou um tempo para eu me interessar por poesia. Na verdade, bastante tempo. Acho torta a maneira como a ideia de poesia chega pra gente. Vira uma tarefa, um problema a ser resolvido. Não que isso seja de todo errado. Mas, depois, com a sorte de tomar a poesia como experiência, sentimento que precisa encontrar alguma forma, a relação muda, e fica menos pesado pensar por que chegamos na música, na rima e, mais bruto, no verso.
Quando pesquisei sobre a etimologia do verso e encontrei o verso como metáfora, como movimento transversal, soube explicar - pra mim e pros outros - aquela extensão da poesia para além do poema. Daí li O arco e a lira, do Paz, e o processamento foi se tornando cada vez mais orgânico. Os momentos, as pancadas e as alegrias da vida, que chegam, cruzam e, às suas maneiras, pedem para ser cantados. Cada um tem seu tempo, sua melodia, seu lugar. Suas pessoas. Pra mim, pra você.
Andando pela 25 de março, antes da pandemia, no final de 2019, dei com uma espécie de rolo de barbante achatado. Uma fita de tecido. Fiquei olhando. Foi um verso. Na hora, comecei a imaginar o poema sobre a faixa; na hora também, me imaginei atravessando o poema que estaria na faixa. E, sem precisar de muito esforço, quando sentei para escrever, entendi que o poema seria sobre a poesia, e que a poesia, a que vale a pena, estava com o combustível carregado: as cicatrizes, boas e ruins, de quando fui atravessado pela vida.