Quando essa merda toda acabar (versos higiênicos) — Rodrigo Maceira

A METÁFORA DO MUNDO SUJO NÃO É NOVA. NO MEU CASO, A FRONTEIRA ENTRE O SEGURO E O PERIGOSO, PAUTADA PELA “HIGIENE”, FOI ALIMENTADA DESDE CEDO PELA LITERATURA. PRIMEIRO, COM DEMIAN, DO HESSE, ATÉ MAIS TARDE, QUANDO LI RETRATO DE UM ARTISTA QUANDO JOVEM E VIVI A IMUNDICE E A FEBRE DO DESEJO E DO PECADO.

DURANTE O ISOLAMENTO, NA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, EM 2020, O TERRITÓRIO SEGURO DE CASA PASSOU A ADMITIR AINDA MAIS O SUBSTANTIVO “LIMPEZA”. NA PUBLICIDADE, NAS NOTÍCIAS, NO TIKTOK; A VENDA DOS PRODUTOS DE HIGIENE DISPAROU. ISSO TUDO, MAIS O ESFORÇO EM DAR SENTIDO A UMA VIDA PRIVADA DE MUNDO, ME LEVOU A COMPOR UM POEMA PENSADO PARA ESTAMPAR UM ROLO DE PAPEL HIGIÊNICO. CONTRADITORIAMENTE, O PRODUTO, QUE USAMOS PARA LIMPAR “O QUE TEMOS DE MAIS SUJO”, SERVIU DE PAUTA PARA INSCRIÇÕES QUE CORRERAM, DE PONTA A PONTA, A PAREDE DA SALA DE CASA.

DENTRO, ME PROTEGENDO DOS RISCOS LÁ DE FORA. LIMPO, MAS SUJO.