Uma vez, na aula de redação do colégio, a professora escolheu um texto meu para ler em voz alta. Conforme ela andava com a história, e esboçava um ranger de dentes aqui e um peito estufado ali, eu percebia que, de fato, havia se envolvido na trama e migrara para experimentar, ao lado dos personagens, o que a narrativa entrelaçava. Foi bom demais ouvir aquilo, sentir aquilo e entender que escrever, e ler também, era por e para aquilo.
Mais tarde, numa palestra com o Skármeta, o chileno encerrou perguntando se havia alguém, entre os alunos, com planos de se tornar escritor. Fiquei quieto e tímido, porque não sabia o que era escolher ser escritor. Para mim, escrever era, e continua sendo, escrever, sentir essa compulsão por tentar fazer caber na palavra tudo o que fica sem entendimento fora dela. Quando menos esperava, a professora, a mesma que lera meu texto para toda a sala, veio até onde eu estava e sugeriu: "Você vai ser escritor, não vai, Rodrigo?".
Lendo essa resenha que o Thiago Sobrinho escreveu para Até de repente, pensei nesse episódio, porque consigo imaginar o Thiago tropeçando ao lado dos personagens do livro. Consigo ouvir ele lendo várias passagens do texto em voz alta.
Sobre "Heroes", Thiago escreveu: "O texto, um dos melhores do livro, tem como chão a amizade de um grupo de jovens que ainda não foram brutalizados pela pedreira que é a vida adulta".
Bingo.