A discussão sobre a “natureza” da arte pode servir para alguma coisa. Por exemplo: se a arte é um gabarito do mundo, tanto mais valioso quanto mais fiel ao que representa; se sua vocação residiria na competência da imitação que oferece, toda a questão da mímese desde A poética; se apenas seria arte se fosse figurativa: isso tudo pode servir se nos permitirmos admitir que a vontade de ser o mundo é, por um lado, a causa do fracasso da arte e, por outro, por conta desse fracasso, a própria consagração da arte.
Se nos permitirmos entender que o faz-de-conta de uma figura pintada, esculpida ou escrita é o que move a arte adiante, sem que, para isso, haja uma correspondência com a realidade, forjada; que essa equiparação de irrealidades independe de uma qualidade de execução e que toda arte é um artifício, um truque, um golpe; então, estaremos prontos para reconhecer que a força da arte é sua aptidão não para ser paráfrase do mundo, mas, sim, para existir como paródia dele.
Não existe nada de mulher numa mulher sombreada barroca, e que bom! É essa a arte que, no mundo de representações técnicas, mais precisa ser. Daí todo o arco da arte do contra, com suas paródias, ser mais a confirmação que a negação da arte que veio antes: tudo, todos vocês, todos esses objetos, essas tralhas - tudo uma distorção de um original que não pede para ser capturado. É a nossa condição de fabuladores que nos leva a viver em nome do que poderia ser.