No final dos anos 2000, precisaria olhar no Google para dizer o ano, acabei, de última hora, por conta da insistência de um amigo, numa tenda montada para o Tim Festival, no estacionamento do Ibirapuera. A gente descendo a Abílio Soares, indo a pé até o parque, ele me perguntando se eu me incomodava que vestisse uma faixa na cabeça, como o MGMT fazia, e eu olhando pra baixo, lá na frente, nem tão adiante, imaginando o quanto de álcool ou droga eu usaria para fazer o show acontecer pra mim, de um jeito que não aconteceria pra ninguém. O que, óbvio, não seria difícil, porque sempre foi e será assim, pra mim e pra você. Ou pra qualquer pessoa. Ficou aquela sensação de quando fomos entrando e descobrindo as árvores dentro da tenda, cortadas pela iluminação, entre o vermelho e o rosa, e a fumaça preenchendo o espaço, bem menos cheio que nas outras edições do festival.
Chegamos e já tinha começado o show do Cérebro Eletrônico, e isso, esse set atravessado, foi um começo tão bom que eu, que não tinha planejado nada, não teria nunca projetado. Logo tocaram "Pareço moderno”, dos melhores, se não o melhor momento da banda, “às vezes eu surto mesmo, mudo de assunto, sumo e não assumo a minha lucidez”. Estava já flutuando no rifezinho assobiado do teclado, saindo pra dançar, “oh, oh”, meio deslizante entre gente que eu não conhecia, sozinho, entre tantas pessoas levantando juntas o que poderia ser, como poderíamos sentir, moderno.
Vimos ainda alguns shows antes de chegar no último, a fantasia de ser jovem e fingir que a vida vai ser diferente com o MGMT. Teve muita coisa. E, quando muita coisa vem de uma vez, sempre traz alguém ou algum conhecido, pra ser descoberto ao nosso lado, encontrando as forças, os sonhos, as vontades que pedem para acontecer longe de quem conhecemos mais e a quem não nos referimos como “conhecidos”. Foi isso que aconteceu. De repente, estava de mãos dadas com uma conhecida que não via há tanto tempo, tendo visto algumas vezes, a maior delas pelo e-mail ou pelo Facebook. Montamos uma roda, era o mundo que existia dentro dali, porque o lado de fora, sem experimentar aquele tempo, com aquelas pessoas, como se não existisse, não existiu pra gente. Na hora, completamente elevado, entendendo que conseguimos ser mais leves que o peso do corpo, puxamos uns os outros, experimentamos uma coreografia improvisada, e imediatamente lembrei de um professor italiano da faculdade repetindo que a rave era um transe; estávamos todos num ritual de passagem. E era e foi meu aniversário.