Beckettéricas, ou esperando o robot

Tem essa ideia, tantas vezes acusada de pessimista, e pós-moderna, de que a esperança diminui num passo inverso à proliferação das revoluções técnicas e da síntese de inteligências que complementariam, superando, a nossa. A frustração com aquilo que essas aquisições não trouxeram, se é que não trouxeram, pode ter uma face decepcionada, mas, numa perspectiva de contramão, aumenta a desesperança justamente porque, antes, lança a esperança num degrau vertiginoso. Quanto mais alto, maior o tombo.

Já há algum tempo, passeando pelo Maps, fico interessado no número de construções, nas nossas cidades, reféns de algum tipo de promessa. Aliás, quando visito uma cidade, quase tudo nela me põe em contato com o plano e a expectativa de quando apareceu. Um drogaria, um banco, um hospital, uma igreja, ou uma lotérica: tudo, no homem, é um exercício de fé. Saber que o nosso mundo tem fim pauta muita coisa, não tudo, na vida.

Então, esperando pelo fim, fatal, esperamos, em chave de combate, por um amontoado de acontecimentos e realizações que, às suas maneiras, adiam o confronto com a falta definitiva de tempo para levantar e imaginar de novo. É assim que surgem as Beckettéricas e a espera pelo robot. Diante de prints com pessoas investindo expectativa em casas de jogo e sorte, insiro diálogos da ainda belíssima peça do Beckett, Esperando Godot. Se chega? Só Deus dirá.

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Em breve, não sei se em tom de resgate ou resignação, as montagens vão circular em lambes colados por São Paulo. Até.