Eu mesmo sempre me digo que faz mais sentido dedicar espaço a autores e livros nacionais pouco promovidos.
Acontece que sou muito fã da obra do Laub, tem tempo já. Primeiro, porque ele torneia o texto como poucos autores brasileiros contemporâneos, expandindo o vocabulário da fala prosaica sem cair em estruturas artificiais. É um prazer ler as tranças que faz com as palavras e os períodos, e observar a relevância que coloca sobre questões tão corriqueiras de uma era que é nossa. Em segundo lugar, porque Laub fala de tempos, lugares e personagens com quem, em diversas ocasiões, cultivo afinidades bastante pessoais. Ainda que não seja judeu e considere Diário da queda um romance tremendo, meu favorito permanece O segundo tempo, história da amizade entre irmãos, que, na vida do leitor, vaza para os amigos, e da dureza que é uma existência tão cheia de decepções.
Por isso tudo, e também por Longe da água e por A maçã envenenada, é que me afasto da recomendação que mal fiz valer pra mim e escrevo essas poucas linhas sobre O tribunal da quinta-feira.
Mais uma vez, é o autor de texto sóbrio e acessível que, ao estilo dos capítulos curtos dos livros anteriores, apresenta a história do publicitário José Victor, de sua amizade com Walter, de sua separação de Teca e do caso com a redatora-júnior Dani. Todos personagens bem construídos, bem conduzidos por palavras e combinações precisas, felizes e que funcionam.
O que não funciona tão bem, porém, e é provável que seja essa também uma das causas que pedem o post, é o arco geral do romance, o argumento maior que abriga os encontros e desencontros dos bons personagens.
Laub decidiu falar do tribunal que são as redes sociais. Pra isso, acabou usando a mesma expressão, para a crítica do mesmo fenômeno, que nomeou o single com Tom Zé e convidados, em 2013. Até aí, bacana, originalidade não é condição de romance bom. O que, pra mim, faltou, porém, foi um tratamento menos previsível, talvez ainda mais provocativo e polêmico, para não chover no encharcado.
Em alguns momentos, o autor Laub arrisca se confundir, pela cadência do próprio texto e pelo apagamento das marcas de José Victor, com as opiniões do próprio narrador (o publicitário conta a história em primeira pessoa). E esse risco, na minha modestíssima opinião, seria o trunfo maior que Laub não leva à última consequência.
Ponho um exemplo: quando o narrador fala ironicamente da reação da diretora de RH da agência e, particularmente, das feministas de Facebook, diante do vazamento das mensagens "escrotas" que José Victor trocava com o amigo gay Walter sobre a redatora-júnior, ameaça cutucar uma ferida - a do ativismo de vitrine, a da militância da vaidade - que, provavelmente para evitar que ele mesmo - Laub e seu romance - caísse nas malhas do tribunal, sangra pouco demais. Mas era isso, principalmente isso, que faria do livro o livro especial que acaba não sendo.
Por isso, ao evitar o confronto com a histeria das redes, e do júri dos nossos prêmios literários esclarecidos - coisa que Scott, em seu O ano em que vivi de literatura, encarou bem mais de frente -, Laub deixa de atacar literariamente o cinismo a que nos vemos submetidos diariamente. Seria uma virada no próprio percurso do autor, que, por não acontecer, não faz de O tribunal um livro ruim, mas tampouco o leva para perto dos favoritos que citei lá pra cima.