às vezes você faz uma obra que contém uma previsão

Basicamente, eu costumava pintar. Foi assim que comecei e, a certa altura, pintava muitas nuvens. Na Iugoslávia, havia um grupo de estudantes que tentava romper com a tradição vigente e fizemos uma exposição chamada As Coisas Pequenas [The Little Things]. O tema era levar um objeto que inspirasse e fizesse parte da vida de cada um de nós, mas que não fosse uma obra de arte. Então, um estudante trouxe a porta de seu estúdio, como parte da exposição, porque disse que, para ele, era muito importante abrir a porta de seu estúdio quando entrava para trabalhar. Isso era uma coisa inspiradora. Outro sujeito trouxe só a colcha da cama dele. Disse que, antes de trabalhar, ele sempre dormia, então era algo importante. Outro trouxe a namorada e disse que sempre fazia amor com ela e depois ia para o estúdio trabalhar, dessa forma ela era muito importante. Eu levei uns amendoinzinhos, porque fazia muitas pinturas com nuvens. Chamei o amendoim de Nuvem com sua Sombra [Cloud with its Shadow]. Esse foi um dos meus primeiros trabalhos que não eram pinturas e nem eram orientados ao objeto. Com essa obra realmente rompi com a tradição da época na Iugoslávia da década de 1970.
— Marina Abramović: http://performatus.net/body-art/
Relation in Time também foi feita em Bolonha. Ficamos sentados juntos, amarrados pelos cabelos, durante dezesseis horas, sem público, e a cada hora era feita uma imagem. A ideia era ficar lá sentados na performance e perder completamente a nossa energia. No final da nossa energia, o público foi convidado a entrar e tiramos a energia do público, e ficamos lá mais uma hora. O tempo total dessa peça foi dezessete horas, em que ficamos expostos como uma escultura. Essa imagem foi usada sem a nossa permissão para uma propaganda de xampu da L’Oréal em Paris. Isso acontecia com os artistas na década de 1970: eram usados em propaganda e em empresas de moda e assim por diante.
— Marina Abramovic: http://performatus.net/body-art/