Uma das vantagens dos bons textos curtos em relação aos bons textos longos é que não pensamos duas vezes quando vem a vontade de relê-los. Foi assim com Companhia, do Beckett, que li anos atrás, em espanhol, enquanto morava em Barcelona. Beckett solda as palavras, umas às outras, bagunçando os sentidos em nome de um significado novo, mais abrangente, sem deixar de ser específico; muito mais imagem, lembrança, sendo texto, naquilo que o texto tem de convencionalmente distante do figurativo.
“Inventor inventado inventando isso tudo por companhia. No mesmo escuro fingido que seus fingimentos. Em que postura e se sim ou não como o ouvinte na sua de uma vez por todas ainda não imaginado. Um não é imóvel o bastante? Por que duplicar esse consolo específico. Então que se mova. Dentro do razoável. De quatro. Um rastejar moderado dorso bem afastado do chão olhos em frente alertas. Se isso não for melhor que nada cancelar. Se possível. E no vácuo reconquistado um outro movimento. Ou nenhum. Deixando apenas a postura mais útil para ser inventada. Rastejar e cair. Rastejkar de novo e cair de novo. No mesmo escuro fingido que os seus outros fingimentos.”
Um link para explorar: http://www.beckettarchive.org/.