Olha, tinha tempo que não aparecia por aqui, pelo menos com um texto novo. Nesse intervalo, comecei e terminei diversas leituras, comecei e não terminei texto algum. Sobre muitas dessas páginas ainda falarei aqui, espero. Tem um livro de contos nacional, lindo, lindo, que merece um texto calmo, não necessariamente longo, mas dedicado.
Aproveito o post para pensar, em voz alta, sobre a performance que estou preparando, com orientação do Artur Matuck. Aliás, quero escrever em breve sobre o Matuck, dos poucos e visceralmente sinceros outsiders que conheci até hoje. Outsider na academia, outsider nas instituições das artes, outsider na maneira de pensar, de organizar, de sugerir. Enfim, um sujeito que se move e move o mundo, pensando pelas beiradas, absolutamente convicto de que as beiradas ainda vão transbordar para o centro. Poderia ser utopia, mas é só, e muito, um tipo especial de descentramento, de crença num lugar à margem.
Enfim, estou experimentando com a palavra. A partir de um exercício de livre associação de texto, o texto - qualquer que seja - como rubrica de uma cena, pincei, de mim mesmo, a sequência "Futuro do presente, com presentes, é. Não será". Na época do exercício, dias antes, tinha ouvido aquela música tão simples e bonita do Pato Fu, "tempo amigo, seja legal, conto contigo, pela madrugada, só me derrube no final". Diria que a livre associação, nem tão livre, partiu daí, correu para algum lugar e deu aqui em mais uma reflexão sobre a aflição diante do tempo que passa, e nunca mais.
Veio a vontade de cercar certa obsessão por administrar o futuro. Então, vieram as cartas. As cartas que tomam o futuro como se estivesse escrito - como estão escritas as notícias velhas, fatos ou versões, reais ou inventadas, impressas numa página de revista. E inevitável também a tentação diante da suspeita de que a gente está o tempo todo repetindo os medos, as esperanças e as tragédias que já foram. Porque o homem é só o homem, querendo ser sempre mais.
Apresentei a performance no CAC, para o grupo que tem trabalhado junto, e boas adições apareceram para ampliar o interesse (e os modos de tratá-lo, representá-lo) que nasceu em mim, em algum dia entre março e abril de 2017.
É para breve o convite que deixarei aqui aos curiosos. "Presentéritos" estará numa mostra que acontecerá no meio do ano.