Continuando as aulas no CCSP, dronamos a famosa (retórica, controversa e provocativa) proposta de uma escrita não criativa do norte-americano Kenneth Goldsmith. Depois de assistir a uma entrevista e comentar brevemente os processos (e estratégias) de composição de alguns de seus livros, fizemos nós mesmos um exercício mezzo inspirado no professor da Universidade de Pennsylvania.
A partir de uma oração roubada do novo romance do Victor Heringer, os participantes traçaram o seguinte percurso:
1. Parafrasear o texto de Heringer.
2. Passar o texto adiante, para ser completado pelo participante ao lado.
3. O texto completou a roda - e foi continuado - até voltar às mãos do "autor original".
O trecho do Heringer:
“Todos os buracos do corpo dele se abriram para rarrarir, rarrarrarrir.”
Alguns exemplos do que aconteceu:
“1 - Seu corpo sorria e se abria espalhafatosamente,
2 - a respiração ofegante. Vai acontecer, eu vou rir! Eu vou rir muito.
3 - Naquela sala de estar forrada de brigadeiro pela mesa, aniversário destrambelhado daquela vizinha.
4 - Jogo um brigadeiro na boca a fim de disfarçar rurrurrurrurrurrú.
5 - Fracasso. Sou notado pelo riso adoçado e pelos dentes sujos de marrom.
6- Ali, bem depois do parabéns. Por que lembrar daquela cena? Justo naquela hora!! Quando todos estão a ir e voltar da cena principal: a mesa de doces. A partir daí foi uma cascata.”
“1 - Ela tinha uma presilha que tiquetaqueava no cabelo.
2 - Abrefecha, abrefecha, abrefecha.
3 - Não se decidia por algum penteado, então decidiu-se pela boina azul, cobrindo todas aquelas dúvidas.
4- E não chegou a se perguntar o que o azul poderia representar. Já era uma certeza,
5 - que a corrompia
6 - Porque ela sabe, o azul é q cor mais quente e ela não tem idade para se queimar
7 - Lolita que é, vai com tudo, no dessabor da juventude.”