Eu cortava cabelo no Stylus

Para a aula sobre estilo, no curso de (re)escrita (re)criativa, no CCSP, discutimos um pouco a noção "verticalizada" de estilo, do Barthes, e usamos o clássico Exercícios de estilo, do Queneau, justamente para pensar se podemos ou não escrever para além de "condicionantes inatos". Foi toda uma boa conversa, mas foram ainda melhores os textos que alguns dos participantes desenvolveram a partir da proposta de um hipotético 100° exercício. Renata e Beatriz reescreveram o episódio do ônibus, narrado 99 vezes - cada uma em um estilo - no original de Queneau, ao modo "erótico". Já Marcelo organizou seu processo de criação à maneira dadá. 

Renata Brabo

Renata Brabo

Beatriz Prieto

Beatriz Prieto

Lá esperança subia de tamancas no paratodos transportável S, lotado. Cary Grant, o malandro nordestino afetado, em torno das 12:23, um rapazote de 129 anos, um babaca com um pescoção depenado e sem recheio, de repente, porque Pituca pisoteava e é pisado por B, interpelou seu vizinho, um velho imbecil ao lado. Incapaz de levar a rixa com a ralé, logo se esgueirou e empreendeu o preenchimento de um lugar disponível, foi-se.
Horas, esse revi. O conjunto dos pedestres presentes conversando animadamente em plena estação mal-acabada. O professor aconselhava a diminuir um botão do seu sobretudo, é!! no dele!!
— Marcelo Fernando da Silva

a segunda vida dos restos que escrevem o mundo

Num dos exercícios que fizemos no curso de (re)escrita (re)criativa, no CCSP, costuramos um procedimento do Arp, dadaísta dos que originalmente habitaram o Cabaret Voltaire, com um poema de Ricardo Reis. Substituímos algumas palavras do poema do Pessoa por outras colhidas, aleatoriamente, de uma edição da Folha

Depois desse aquecimento, falamos um pouco de Schwitters e da poesia Merz, que, a exemplo do seu trabalho "plástico", também se alimentou dos descartes da cultura industrial. Lemos seu poema "Coleta de lixo na Kaiserstrasse" e, por aproximação temática, pensamos o "Matéria de poesia", do Manoel de Barros. Estimulados por esses movimentos e entrelaçamentos, três dos participantes da oficina criaram textos, em formatos livres, a partir de ideias, materiais, documentos e lembranças descartadas. 

O resultado foi pura poesia: a segunda vida dos restos que escrevem o mundo.

"Egoarquitetura", Priscila Tâmara

"Egoarquitetura", Priscila Tâmara

"A quem possa interessar", Lucas Hirai

"A quem possa interessar", Lucas Hirai

"Como num segundo", Pither Lopes

"Como num segundo", Pither Lopes