Europe, she loves

Já há um tempo, tinha visto o trailer de Europe, she loves, filme do diretor suíço Jan Gassman. Pelo que tinha entendido, o filme confrontava a dureza de um continente em crise - econômica e todas as demais crises herdeiras, correlatas - com certa frieza no relacionamento entre gregos, espanhóis, estonianos, irlandeses. Europa ama, mas maltrata.

Vendo o filme, fiquei com a sensação de que, no fundo, os paralelos entre uma decadência financeira e a especulação sobre a falência do amor em tempos hipermodernos, construídos ao longo das revelações e conturbações sobre os relacionamentos dos pares dos diferentes países, são, na verdade, uma convocatória de esperança, mesmo que agonizante. 

É nesse sentido que a trilha do Library Tapes caiu lindo demais. 

art school

Because Bowie’s most important lesson was how to be an artist. It’s become a truism that he influenced generations of art-school students and it’s because he was art school for so many.
— Dan Fox - https://frieze.com/article/hang-on-to-yourself

conspiração

But the Link kiosks will pay for themselves by displaying onscreen ads that will be “hypertargeted” to people within range, based on data their smartphones silently provide. This explains why the smart city is being hailed as a breakthrough in marketing circles. And yet, contemplating the kiosk (or monolith, depending on your point of view) just installed outside my lower-Manhattan apartment house, I can’t help thinking about the “Credit Poles” in Gary Shteyngart’s novel “Super Sad True Love Story.” In Shteyngart’s unnervingly prescient satire, these ubiquitous, faux-rustic street fixtures display the credit ranking of every passerby in L.E.D. numerals—flashing red L.E.D. numerals, if the ranking isn’t high enough. Ratti and Claudel, citing the urbanist and author Adam Greenfield, write of “everyware,” an invisible network of sensors and cameras that finally achieves the ultimate dream of urban efficiency and security at the cost of anything resembling privacy.
— Frank Rose, 2016

Fui sempre simpático às teorias conspiratórias. Parece meio improvável pensar a opção pelo sedentarismo, pela progressiva concentração de pessoas em espaços curtos, sem imaginar o desenvolvimento de hierarquias e certa obsessão de um pela vida do outro.

Por isso, gostei dessa nota publicada na New Yorker, tratando dos cruzamentos entre os espaços físicos e virtuais, na construção e organização das cidades, num futuro que começa agora. Se a digitalização da informação garante, cada vez mais, acesso imediato a dados sobre o funcionamento do circuito urbano (trânsito, acidentes, incidentes, serviços), viabiliza, por outro lado, o monitoramento constante de quem acha - e só acha - que está observando a cidade acontecer. Como já virou clichê dizer, estamos sendo o tempo todo observados. 

O que a matéria destaca de interessante, para além do primeiro clichê, é a ideia de que, mais do que acompanhar nossos deslocamentos geográficos, performáticos, estéticos e sensíveis, dispositivos como smartphones estão fornecendo, permanentemente, dados sobre percursos mais íntimos: nossa rede de contatos, a localização geográfica da nossa rede de contatos, nossos likes, nossas buscas, nosso histórico de cyber flânerie, nossos gastos etc.

A possibilidade de exibição de anúncios, mediante dados colhidos dos nossos celulares, institui - de fato - uma dimensão ciborgue em cada um de nós. O aparelhinho passa a dizer e respirar como parte dos nossos corpos, moldando nosso espaço social, ao mesmo tempo que é afetado por ele, mais e mais um espaço sócio-tecno lógico e crático.