Fui sempre simpático às teorias conspiratórias. Parece meio improvável pensar a opção pelo sedentarismo, pela progressiva concentração de pessoas em espaços curtos, sem imaginar o desenvolvimento de hierarquias e certa obsessão de um pela vida do outro.
Por isso, gostei dessa nota publicada na New Yorker, tratando dos cruzamentos entre os espaços físicos e virtuais, na construção e organização das cidades, num futuro que começa agora. Se a digitalização da informação garante, cada vez mais, acesso imediato a dados sobre o funcionamento do circuito urbano (trânsito, acidentes, incidentes, serviços), viabiliza, por outro lado, o monitoramento constante de quem acha - e só acha - que está observando a cidade acontecer. Como já virou clichê dizer, estamos sendo o tempo todo observados.
O que a matéria destaca de interessante, para além do primeiro clichê, é a ideia de que, mais do que acompanhar nossos deslocamentos geográficos, performáticos, estéticos e sensíveis, dispositivos como smartphones estão fornecendo, permanentemente, dados sobre percursos mais íntimos: nossa rede de contatos, a localização geográfica da nossa rede de contatos, nossos likes, nossas buscas, nosso histórico de cyber flânerie, nossos gastos etc.
A possibilidade de exibição de anúncios, mediante dados colhidos dos nossos celulares, institui - de fato - uma dimensão ciborgue em cada um de nós. O aparelhinho passa a dizer e respirar como parte dos nossos corpos, moldando nosso espaço social, ao mesmo tempo que é afetado por ele, mais e mais um espaço sócio-tecno lógico e crático.