DeLillo
Rat Bastard Protective Association
son
Esse quadríptico em vídeo dos argentinos Entre Rios vale cada clique e cada segundo de todas as vezes (porque uma não dá conta) que você usará para sorver a trama.
Precisa seguir por aqui, a partir de um computador (não funciona em telefone).
may days + klein
Dentre as toneladas de coisas sobre as quais tinha informação nenhuma, descobri, fuçando o Mubi, essa coleção de imagens de maio de 68 capturadas por William Klein. O filme é um dos documentos mais impressionantes que vi sobre esse que foi dos grandes levantes indecifráveis do século XX. A sequência monta um mosaico de posições, motivações, conflitos, estranhamentos, desdobramentos. Tumulto, muita agitação, inquietação, e enorme dificuldade de pescar alguma coerência. Sem tentar explicar muita coisa, Klein liga a câmera e espera a história acontecer - enquanto história e cinema.
Por isso, fui ler mais sobre o fotógrafo e achei esse vídeo aqui. Deve ser óbvio para quem conhece, mas foi interessante saber que, de volta da Segunda Guerra, Klein recebeu uma bolsa para estudar Artes em Paris.
Playlist do Irvine Welsh
Diz que Mr. Welsh cria playlists para a construção de cada um dos seus personagens. Nesse programa da BBC, o autor apresenta algumas faixas.
carnaval
Crazy emotions
Por mais que a gente se esforce para imaginar o que seria um cabaré, como o Voltaire, num país europeu resguardado da Primeira Guerra, não é fácil alcançar o que podem ter significado as sessões, as bebedeiras, as apresentações, as criações, as pegações, as experimentações e todas as locuritas dos dadaístas de Zurique.
Tento relacionar com os movimentos e produções contemporâneos meus, pensar no tipo de bar que poderia receber uma revolução cultural, no tipo de artista que bagunçou o padrão de ideias desse trânsito século XX-XI, e não é fácil apostar em nada em especial. Tem um palpite aqui, outro ali, mas identificar alguma força criativa capaz de reconfigurar o comportamento de quem tem necessidade de criar, quando a lógica ainda pede para produzir, é pouca brincadeira.
Wow
Surge esse clipe do Beck, com habilidade precisa para pinçar - talvez ironicamente, e por isso fazendo as vezes de crítica e elogio ao mesmo tempo - imagens inconfundivelmente sedutoras da cultura americana. Tem Western, tem rock, tem mosh, tem slow motion, tem saturação, tem espetáculo, tem pet, tem minimiss, tem game, tem simulacro, tem plasticidade em tudo que existe de natureza e fabricação no imaginário de um dos maiores impérios da história do homem.
Um vídeo assim, vestindo a letra que já tinha circulado antes, aos olhos de alguém de hoje, São Paulo, Brasil - leia-se "eu" -, despista a patrulha da razão para cobrir o corpo com os infinitos estímulos sensíveis de uma cultura midiatizada em incontáveis graus. Não é de hoje: Beck vai preparando cama no panteão da mitologia pop que abriga um Bowie.
mito
a morte do pai
Vou aproveitar o intervalo para comentar uma leitura que adiei e que, talvez por ter sido tão adiada, tenha concentrado carga - e descarga, se posso dizer assim - poética.
Falo do primeiro número da saga Minha luta, de Knausgård. Decidi ler, assim, meio de repente. Não tanto pela FLIP, mas provavelmente pela overdose expositiva que, por conta do evento, os livros ganharam nas mesas e vitrines das boas livrarias de São Paulo. Então, lá estava eu com A morte do pai em mãos, caminhando para o caixa, por cima da forte resistência que passei a adotar diante dos hits editoriais, especialmente após Liberdade, do Franzen, demasiado Desperate housewives para a minha paciência de leitor.
Logo que comecei o livro, fiquei um pouco receoso em relação às cotas generosas de descrição, que, num primeiro momento, me fizeram pensar justamente na experiência odiosa que tive com o autor de As correções. Mas, conforme avançava as páginas, fui me dando conta de que estava diante de um texto bem diferente, muito mais confessional e menos irônico. Infinitamente mais cru e bonito.
A morte do pai é um oceano de delicadezas, dos avanços e retrocessos que fazem da vida a vida, de inseguranças e atrevimentos, de paisagens acinzentadas e humores de tantas cores diferentes. É cheio de digressões que às vezes nos perdem, justamente porque nos levam para digressões das nossas próprias histórias, que redescobrimos não tão perdidas como a rotina monocromática nos quer fazer crer. E, pelo menos no meu caso, que acredito incluir muitos outros casos da minha geração, e de gerações posteriores também, as longas páginas de realismo descritivo, muitas vezes causa de distanciamento, são - na contramão - a causa de uma incrível identificação com o narrador.
Chorei quando os irmãos colocam um CD do Supergrass, a caminho do enterro do pai. Chorei quando Karl Ove escolhe vestir uma camiseta do Boo Radleys. Chorei quando Karl Ove fala da vontade de criar uma publicação que combinasse dadaístas e cultura pop, literatura de butique e quadrinhos. Chorei durante toda a demorada limpeza que fazem na casa, quando o contato com o mais mínimo objeto está iminentemente em condições de abrir toda uma via de acesso a lembranças capazes de organizar ou bagunçar a ideia e a explicação que fazemos de nós mesmos.
Chorei quase o tempo todo. E, enquanto não chorava, nos momentos em que a leitura ficava tediosa, insistia no desbravamento de cada linha porque sabia que não tardaria a hora de voltar a chorar.
O livro é bonito demais.
Já comecei Um outro amor, o segundo, e, ao que tudo indica, caminharei com Karl Ove até onde ele quiser me levar. Tá buenísimo.