“Gracias al testimonio de una compañera de huida sabemos cuál fue el último objeto de valor que conservaba Walter Benjamin: un reloj antiguo, de oro, un resto arqueológico de vida burguesa, un recuerdo de familia.”
art and illustration
“In 1901, for example, Bok offered reprints of Ladies Home Journal illustrations (without text) for sale to the public. The notice stated that the reproductions (by W. I. Taylor), if framed, were ‘works of art fit to hang beside any painting’. [...]
Artists and editors were conscious of vocational differences between illustrators and career painters. Nevertheless, the practices of Curtis, Bok, and Lorimer contributed to a blurring of borders between art and illustration on the part of the general public, who framed the pictures of and for whom such covers signified ‘art’. ”
John Sloan, "The Football Puzzle" (outubro de 1901)
Em busca do entendimento perdido
Desde o começo de maio, Martin Creed instalou um letreiro, no Brooklyn Bridge Park, em Nova York. A poética por trás do trabalho, comum a alguns artistas contemporâneos, parte da apropriação da visualidade do signo verbal intrinsecamente identificado com as mídias das culturas do consumo.
Existe uma aposta na ressemantização de um signo atrofiado pela rotatividade das lógicas de produção e circulação - de materialidades e sentidos. Como se, ao invadir um meio publicitário, o artista fosse capaz de recompor algum diálogo perdido com o "urbanita". Desviando o sentido original atribuído a essas mídias, o artista estaria em condições de resgatar o leitor que pode - talvez devesse - existir em cada consumidor. Conceitualmente, a prática reporta ao desvio situacionista, tão bem colocado em prática pelos provos holandeses que interviram em publicidades de carro e cigarro, e que, mais recentemente, ganhou o apelido de "culture jam".
Intrigante nesse tipo de trabalho - que ajusta percursos icônicos e indiciais para a construção do significado - é o questionamento, na criação e na recepção da "obra", das fronteiras entre uma coisa e outra. Quando uma palavra midiatizada deixa de ser anúncio para ser denúncia? Se é que deixa. Se é que seria possível escapar à lógica das relações sugeridas pelo meio - pensando, de novo, com o mestre McLuhan, que o meio modela a trama social, ou, com o mestre Flusser, que as sociedades que conheceram a escrita viram todo seu caldo cultural afetado pelos limites da mídia palavra.
Por último, sem saber se concordando ou não, se concordando muito ou pouco, penso no clássico ensaio "O autor como produtor", do mr. Benjamin. Ali, o mestre dos mestres magos, escreveu que não haveria possibilidade de uma arte revolucionária que não rompesse com os meios de produção e circulação do dinheirinho. Mais que ideias, o artista deveria produzir meios novos de fazer rodar seu vírus revolucionário.
Koyaanisqatsi na era da reprodutibilidade técnica
"A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica" é, provavelmente, um dos textos mais recomendados nos cursos de pós-graduação em Ciências Sociais e Humanas, no mundo ocidental.
O que poderia ser falta de criatividade, certo dirigismo, ou colonialismo cultural, é também, e cada vez mais, uma tremenda demonstração de como acontece de o mundo atravessar, com antecedência, o espírito de algumas pessoas. Em tempos de internet e mídias sociais digitais, os palpites de Benjamin vão se confirmando, se multiplicando, às toneladas.
O exemplo dessa semana é a versão que fizeram para o clássico de Godfrey Reggio, Koyaanisqatsi, exclusivamente a partir de fotos e clipes disponíveis em bancos de imagem. Batizado com o bem-humorado título Koyaanistocksi, o resultado me faz pensar na literatura de Kenneth Goldsmith, polêmica por citar, parafrasear e bricolar textos de terceiros. A criação, na era da reprodução técnica, teria caminhado - explicitamente - para a recriação, a cópia e o plágio.