Desde o começo de maio, Martin Creed instalou um letreiro, no Brooklyn Bridge Park, em Nova York. A poética por trás do trabalho, comum a alguns artistas contemporâneos, parte da apropriação da visualidade do signo verbal intrinsecamente identificado com as mídias das culturas do consumo.
Existe uma aposta na ressemantização de um signo atrofiado pela rotatividade das lógicas de produção e circulação - de materialidades e sentidos. Como se, ao invadir um meio publicitário, o artista fosse capaz de recompor algum diálogo perdido com o "urbanita". Desviando o sentido original atribuído a essas mídias, o artista estaria em condições de resgatar o leitor que pode - talvez devesse - existir em cada consumidor. Conceitualmente, a prática reporta ao desvio situacionista, tão bem colocado em prática pelos provos holandeses que interviram em publicidades de carro e cigarro, e que, mais recentemente, ganhou o apelido de "culture jam".
Intrigante nesse tipo de trabalho - que ajusta percursos icônicos e indiciais para a construção do significado - é o questionamento, na criação e na recepção da "obra", das fronteiras entre uma coisa e outra. Quando uma palavra midiatizada deixa de ser anúncio para ser denúncia? Se é que deixa. Se é que seria possível escapar à lógica das relações sugeridas pelo meio - pensando, de novo, com o mestre McLuhan, que o meio modela a trama social, ou, com o mestre Flusser, que as sociedades que conheceram a escrita viram todo seu caldo cultural afetado pelos limites da mídia palavra.
Por último, sem saber se concordando ou não, se concordando muito ou pouco, penso no clássico ensaio "O autor como produtor", do mr. Benjamin. Ali, o mestre dos mestres magos, escreveu que não haveria possibilidade de uma arte revolucionária que não rompesse com os meios de produção e circulação do dinheirinho. Mais que ideias, o artista deveria produzir meios novos de fazer rodar seu vírus revolucionário.