a segunda vida dos restos que escrevem o mundo

Num dos exercícios que fizemos no curso de (re)escrita (re)criativa, no CCSP, costuramos um procedimento do Arp, dadaísta dos que originalmente habitaram o Cabaret Voltaire, com um poema de Ricardo Reis. Substituímos algumas palavras do poema do Pessoa por outras colhidas, aleatoriamente, de uma edição da Folha

Depois desse aquecimento, falamos um pouco de Schwitters e da poesia Merz, que, a exemplo do seu trabalho "plástico", também se alimentou dos descartes da cultura industrial. Lemos seu poema "Coleta de lixo na Kaiserstrasse" e, por aproximação temática, pensamos o "Matéria de poesia", do Manoel de Barros. Estimulados por esses movimentos e entrelaçamentos, três dos participantes da oficina criaram textos, em formatos livres, a partir de ideias, materiais, documentos e lembranças descartadas. 

O resultado foi pura poesia: a segunda vida dos restos que escrevem o mundo.

"Egoarquitetura", Priscila Tâmara

"Egoarquitetura", Priscila Tâmara

"A quem possa interessar", Lucas Hirai

"A quem possa interessar", Lucas Hirai

"Como num segundo", Pither Lopes

"Como num segundo", Pither Lopes

2 fotos

Depois que inventaram uma maneira de industrializar o mundo, as coisas em circulação no mundo, ficou quase inútil separar o que é criação para o mercado daquilo que é "genuinamente puro". Fato é que, desde que os situacionistas, em meados dos 50, viram na "construção de situações" uma maneira de restituir, no homem, sua "vocação lúdica", a situação também encontrou seu espacinho na engrenagem da produção e do consumo.

The Whip, Coney Island, 1950 (Harold Feinstein)

The Whip, Coney Island, 1950 (Harold Feinstein)

Metrô de Londres, década de 1970 (Bob Mazzer)

Metrô de Londres, década de 1970 (Bob Mazzer)