Nuestro cabaret es un gesto. Cada palabra que se dice o se canta en él significa, por lo menos, que esta época degradante no ha logrado infundirnos respeto, ni imponiéndolo por la fuerza. Además, ¿qué hay de respetable e imponente en ella? ¿Sus cañones? Nuestros grandes tambores los superan, los cubren y acallan. ¿Su idealismo? Hace tiempo que se ha convertido en motivo de risa, tanto en su versión popular como en la académica. ¿Las grandiosas matanzas que celebra y sus hazañas caníbales? Nuestra locura voluntaria, nuestro entusiasmo por la ilusión desbaratará sus planes.
Crazy emotions
Por mais que a gente se esforce para imaginar o que seria um cabaré, como o Voltaire, num país europeu resguardado da Primeira Guerra, não é fácil alcançar o que podem ter significado as sessões, as bebedeiras, as apresentações, as criações, as pegações, as experimentações e todas as locuritas dos dadaístas de Zurique.
Tento relacionar com os movimentos e produções contemporâneos meus, pensar no tipo de bar que poderia receber uma revolução cultural, no tipo de artista que bagunçou o padrão de ideias desse trânsito século XX-XI, e não é fácil apostar em nada em especial. Tem um palpite aqui, outro ali, mas identificar alguma força criativa capaz de reconfigurar o comportamento de quem tem necessidade de criar, quando a lógica ainda pede para produzir, é pouca brincadeira.
a segunda vida dos restos que escrevem o mundo
Num dos exercícios que fizemos no curso de (re)escrita (re)criativa, no CCSP, costuramos um procedimento do Arp, dadaísta dos que originalmente habitaram o Cabaret Voltaire, com um poema de Ricardo Reis. Substituímos algumas palavras do poema do Pessoa por outras colhidas, aleatoriamente, de uma edição da Folha.
Depois desse aquecimento, falamos um pouco de Schwitters e da poesia Merz, que, a exemplo do seu trabalho "plástico", também se alimentou dos descartes da cultura industrial. Lemos seu poema "Coleta de lixo na Kaiserstrasse" e, por aproximação temática, pensamos o "Matéria de poesia", do Manoel de Barros. Estimulados por esses movimentos e entrelaçamentos, três dos participantes da oficina criaram textos, em formatos livres, a partir de ideias, materiais, documentos e lembranças descartadas.
O resultado foi pura poesia: a segunda vida dos restos que escrevem o mundo.
Chapéu voador
Depois de quase 90 anos, é um barato ficar imaginando que tipo de magia os espectadores - de 90 anos atrás - atribuíam a um chapéu voador num filme do mr. Richter. Quem será que viu?